Brasil Principais Notícias

Parceria com Fiocruz promove saúde mental de jovens indígenas na Serra da Bocaina

Casos de violência autoinfligida são recorrentes entre os guaranis que vivem entre UIbatuba e Angra dos Reis. Projeto construído junto com as comunidades procura superar problema

Um projeto do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) em parceria com a Coordenação de Promoção da Saúde, da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz, vem levando esperança a jovens indígenas na área que compreende os municípios de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba. Habitantes da região, recentemente, as comunidades da etnia Guarani Mbyá foram abaladas por casos de violência auto-infligida entre jovens, que levantaram a urgência de ações de prevenção nas aldeias locais.

Vinculada ao projeto Inovação e Tecnologias em Promoção da Saúde, uma estratégia para o cuidado com a saúde mental de jovens indígenas foi criada coletivamente entre pesquisadores da Fiocruz e do Fórum das Comunidades Tradicionais, do qual fazem parte as lideranças Ivanildes Kerexu, da Aldeia Rio Bonito, em Ubatuba, e Lucas Xunu, da Aldeia Sapukai Bracui, em Angra. “A construção do projeto foi feita a partir do diálogo com estas lideranças que atuam de forma permanente na articulação junto às comunidades”, afirma Helena Fonseca Rodrigues, assessora de governança e gestão do OTSS. “Enquanto movimento, percebemos a necessidade de debater sobre o assunto para procurarmos entender o que estava acontecendo e fortalecer os jovens nos territórios”, destaca Ivanildes.

oca_mental.jpg

Rodas de conversa buscam entender e ajudar

A violência auto-infligida da juventude indígena é um desafio que exige abordagens sensíveis e intersetoriais. Discriminação, falta de conexão com a cultura ancestral, questões relacionadas ao território e ao meio ambiente, desigualdades sociais e econômicas são alguns dos fatores que impactam negativamente os jovens das aldeias. Pesquisadores do projeto atuam nas comunidades, com o intuito de identificá-los e levar atividades para estimular a aproximação dos jovens às tradições ancestrais da etnia. “Os adultos das comunidades foram entendendo que, de fato, esse resgate e a valorização da cultura guarani são caminhos que salvam vidas”, afirma a apoiadora matricial em saúde mental do projeto Inovação e Tecnologias em Promoção da Saúde da Coordenação de Promoção da Saúde da VPAAPS, Marilia Capponi.

Para Lucas Xunu, pesquisador comunitário do projeto de promoção da saúde e liderança que atua na interlocução com a etnia, um dos motivos para o adoecimento dos adolescentes é o acesso limitado à educação. “Muitos jovens estão sem aula, o que gera muita ansiedade e frustração. Os que saem para estudar, fazer o ensino médio, se afastam das comunidades. Com isso, sentem-se mal longe da família e com saudade de casa”, destaca.

Dentre as ações desenvolvidas nos territórios, as rodas de conversa são momentos importantes para o estabelecimento de vínculos e da confiança com os jovens das comunidades. “Os guaranis são muito observadores e reservados, então as rodas ajudam a conhecermos melhor esses adolescentes e as suas inquietações”, declara Marilia. “É uma novidade para eles, mas é possível ver a aceitação e a abertura ao diálogo. Pra nós, é um avanço muito grande, já percebemos que o jovem se sente mais útil e responsável pela comunidade”, afirma Lucas.

Nos dias 12 e 13 de maio, uma atividade realizada com apoio da VPAAPS/Fiocruz na Aldeia Sapukai reuniu pajés e líderes espirituais, a fim de fortalecer a identidade da juventude guarani. A intervenção consistiu na realização de rituais ancestrais com a participação ativa dos jovens, com o intuito de despertar o sentido de pertencimento e de continuidade da tradição indígena para a construção de um futuro mais luminoso.

Para a Coordenadora de Promoção da Saúde da VPAAPS, Adriana Castro, é urgente pensarmos nas questões de saúde mental que envolvem as comunidades indígenas na medida em que se verifica o aumento da violência e do racismo que as atinge. “Nos documentos das Conferências de Saúde Indígena, a saúde mental sempre apareceu como uma preocupação. Num cenário em que o direito à terra é violado com violência, perdendo-se os elementos que constituem os seus modos de vida e bem-estar, as comunidades indígenas experimentam grande sofrimento e os jovens, especialmente, são pressionados por mecanismos de aculturação e práticas de exploração. O esgarçamento dos vínculos com os saberes ancestrais, a violência e a falta de perspectiva impactam decisivamente a saúde mental, e precisamos agir com urgência para mudar esse quadro.”

Segundo dados do censo do IBGE de 2022, 704 indígenas vivem em Angra dos Reis, sendo 339 na Aldeia Sapukai, a maior do estado do Rio de Janeiro, 518 habitantes de origem indígena em Paraty e 643 pessoas em Ubatuba.

Por Fiocruz

COMPARTILHAR
PUBLICIDADE FIM DOS POSTS

Related posts

Fotógrafo Mauro Martins participa de Exposição em Santos (SP)

Redação

Gomes, Tarcísio do Acordeon, Vitor Fernandes e Iguinho e Lulinha estreiam São João de 2024 em evento em São Paulo

Redação

Polícia Civil solicita ajuda da população para localizar idoso que desapareceu no bairro Nova Cidade

Redação

Deixe um comentário