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Bocha paralímpica: sinônimo de tática, técnica, precisão e inclusão

Brasil terá nove atletas e três assistentes nos Jogos de Paris. Conheça detalhes do esporte praticado por pessoas com alto grau de paralisia cerebral ou deficiências severas

Seis bolinhas vermelhas de um lado, seis azuis do outro e um objetivo comum a quem as lança: ficar o mais perto possível da bolinha branca, mais conhecida como “jack”. Em duas linhas de uma explicação resumida, esse é objetivo da bocha, modalidade com 40 anos de história no programa dos Jogos Paralímpicos.

O Brasil tem longa estrada no esporte. Já subiu 11 vezes ao pódio: seis ouros, uma prata e quatro bronzes. É a quarta modalidade em números de pódios para o país na história dos Jogos Paralímpicos, atrás apenas de atletismo (170), natação (125) e judô. (25).

Em Paris, a seleção nacional tem o maior número de representantes entre os 124 atletas que vão competir em 11 eventos com medalhas na Arena Paris Sul. São nove atletas, além de três assistentes. Os Jogos Paralímpicos serão disputados entre 28 de agosto e 8 de setembro.

Deficiências severas

A modalidade é praticada por pessoas com alto grau de paralisia cerebral ou deficiências severas. A bola pode ser jogada com as mãos, os pés ou, em casos das classes com maior restrição de mobilidade, com hastes. Neste caso, os assistentes esportivos (de costas para a área de jogo), seguem orientação dos atletas, posicionam as calhas, ajustam a altura, encaixam as bolinhas e deixam a jogada pronta para o atleta fazer o lançamento, às vezes usando varetas adaptadas às mãos, à boca e em alguns casos com hastes no capacete.

“O auxiliar fica de costas para não interferir no jogo. Ele opera a rampa, mas é o atleta que faz toda a orientação de posicionamento e realiza o toque na bola para o lançamento”, explica Erinaldo Chagas, delegado técnico nos Jogos Paralímpicos Paris 2024 e vice-presidente da Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE).

“A bocha consegue dar a possibilidade de competição para muitos atletas que não têm autonomia, não têm quase nenhum movimento voluntário. Temos atletas de bocha que só fazem movimento com os olhos e alguma coisa de controle de pescoço, e, ao mesmo tempo, têm uma capacidade incrível de jogo, justamente por se dedicarem muito ao esporte. E são destaques no cenário internacional”, completa Erinaldo Chagas.

Categorias

A bocha paralímpica divide os atletas em quatro categorias, de acordo com o grau de mobilidade de cada um. Entenda:

• BC1 – O atleta tem a opção de auxílio de ajudantes, que podem estabilizar ou ajustar a cadeira de rodas do jogador e entregar a bola quando pedido.

• BC2 – Os atletas não recebem assistência e têm mais mobilidade de tronco para lançar as bolinhas.

• BC3  – É para atletas com deficiências muito severas. Usam hastes, calhas e instrumentos de auxílio. Podem ser ajudados por outra pessoa.

• BC4 – Outras deficiências severas, mas que não recebem assistência.20082024_mateus_32.jpgMateus Carvalho e o pai, Oscar: sintonia e muito treino para chegar ao pódio em Paris (Foto: Alê Cabral/CPB)

Competência e precisão

É com base nesse misto de competência, precisão e muito treino que o diretor técnico da modalidade, Leonardo Baideck, aposta em pelo menos três medalhas para o país na França. “O planejamento é tentar entregar ao Comitê Paralímpico Brasileiro duas medalhas de final (ouro ou prata) e mais uma medalha, que pode ser ouro, prata ou bronze. Essa é a nossa perspectiva. Nosso planejamento foi feito para isso”.

O grupo nacional tem atletas mais experientes, com vivência em edições anteriores de Jogos Paralímpicos e eventos internacionais nas classes BC1, BC2 e BC3, e uma geração mais jovem, nascida depois dos anos 2000, de muito talento. “As medalhas podem sair em qualquer classe. O que pode pesar é apenas a experiência de ter participado de outras edições de Jogos, mas não a chance de conquistar a medalha”, avalia Baideck.

Sintonia

Com artrogripose múltipla congênita, o mineiro Mateus Carvalho, de 31 anos, é um dos representantes brasileiros. Ele chegou a Paris com o status de campeão dos Jogos Parapan-Americanos de Santiago, no Chile, em 2023, na Classe BC3. E aposta muito na qualidade da preparação e na integração e sintonia com o pai, o assistente esportivo Oscar Carvalho, para conquistarem um bom resultado na França.

“Essa relação de íntima confiança a gente trabalha de forma bem natural. A gente está sempre junto. É uma relação de pai e filho. Mas quando a gente está no jogo trabalhamos da forma menos afetiva possível e mais procedimental para termos um bom desempenho”, explica o atleta.

Bolsa Atleta

Tanto Mateus quanto o pai são integrantes do Bolsa Atleta, o programa de patrocínio direto do Governo Federal. Os 12 integrantes da delegação nacional recebem apoio do programa do Ministério do Esporte. O investimento mensal nos 12 atletas é de R$ 145 mil. “O Bolsa Atleta realmente é a forma de garantir que nós, atletas, consigamos dedicar 100% da nossa atenção, da nossa dedicação ao esporte. A gente está sempre focado no que precisa fazer dentro de quadra, nas competições. Além de manter a gente na dedicação exclusiva, ele nos auxilia na questão de atendimentos psicológicos, nutricionistas, fisioterapeutas, inclusive atendimentos médicos. É muito importante para que a gente possa estar mantendo um bom estado para poder, nas competições, representar bem o país”, resume Mateus.

Nova geração

O maranhense André Martins, de 21 anos, será o primeiro atleta do país formado no projeto Escola Paralímpica de Esportes a disputar uma edição de Jogos Paralímpicos. Em Paris 2024 ele vai competir na classe BC4. A Escolinha, como é chamada, surgiu em 2018 e tem como objetivo promover a iniciação de crianças com deficiência física, visual e intelectual na faixa etária de 7 a 17 anos em 15 modalidades.

André, que teve diagnosticada uma Distrofia Muscular de Duchenne (doença neuromuscular genética) aos cinco anos, começou a praticar bocha desde que iniciou no projeto do Comitê Paralímpico Brasileiro. Ficou na Escolinha de 2018 a 2023. Após conquistar títulos em competições de jovens, ganhou dois ouros na primeira missão internacional, o Parapan de Jovens, em Bogotá 2023: no individual masculino e nas duplas mistas BC4, ao lado de Laissa Guerreira, sua atual companheira na Seleção adulta.

Cenário Internacional

Numa perspectiva histórica, a Coreia do Sul é o país com mais conquistas na bocha em Jogos Paralímpicos. São dez ouros. Na sequência aparecem Portugal, com oito, e Brasil e Espanha, com seis. Para Leonardo Baideck, no entanto, a perspectiva atual é mais pulverizada, com uma série de nações na disputa.“A bocha hoje é equilibrada. O Brasil se destaca em algumas classes. A Austrália é forte na BC3, a Coreia do Sul é muito forte na BC3, a Tailândia é forte na BC1 e BC2, Hong Kong na BC3 e BC4, e tem um grego muito presente na BC3. Então, é equilibrado, não tem país dominante. O país que está indo com o maior número de atletas aos jogos é o Brasil, com nove, depois vem a Grã-Bretanha, a Tailândia e Portugal, com sete”, detalha. 
Conheça melhor a bocha paralímpicaConheça melhor a bocha paralímpica

MEDALHAS – Nos Jogos Paralímpicos estão previstas disputas individuais masculinas e femininas nas quatro classes, com duas competições de duplas mistas e uma de equipes mistas (três atletas). 

DISPUTAS – Na competição individual e de pares são quatro parciais, ou quatro “sets”, para o jogador lançar as seis bolinhas e tentar pontuar com o maior número delas perto da branca. Na competição por equipes são seis parciais para definir o vencedor.  
20082024_bolas_afericao.jpegÁrbitros fazem a aferição das distâncias para conferir qual bola está mais perto da branca. Foto: Alê Cabral / CPB

TÉCNICA E TÁTICA – Numa estratégia que encontra alguma similaridades nos jogos de sinuca e de curling (o esporte da chaleirinha dos Jogos Olímpicos de Inverno), os atletas treinam muito para bloquear as bolas lançadas pelos adversários ou para empurrar e deslocar quando for necessário, de forma que a deles fique mais próxima da bola branca. “É um jogo de muita tática, técnica e precisão”, define Erinaldo Chagas.

MISSÃO HISTÓRICA – O Brasil tem 280 atletas inscritos para a disputa de 20 modalidades nos Jogos Paralímpicos de Paris. É a maior missão brasileira em uma edição do megaevento fora do Brasil. Na história dos Jogos, o Brasil tem 373 medalhas conquistadas. A melhor campanha do país foi a  última, em Tóquio 2021, ocasião em que a delegação ficou na sétima posição geral, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes, totalizando 72 pódios.

EXCLUSIVA – A bocha constitui, ao lado do goalball, a dupla de modalidades do programa dos Jogos Paralímpicos que não tem um paralelo direto no programa olímpico.20082024_chagas.jpegJosé Carlos Chagas foi bronze nos Jogos Paralímpicos de Tóquio (Foto: Pedro Ramos/MEsp)

Bolsa Atleta onipresente

Na história, o Brasil tem 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes, sendo que o top-3 de modalidades que mais garantiram pódios paralímpicos ao país é formado por atletismo (170 medalhas – 48 ouros, 70 pratas e 52 bronzes), natação (125 medalhas – 40 ouros, 39 pratas e 46 bronzes) e judô (25 medalhas – cinco ouros, nove pratas e 11 bronzes).

Dos 280 atletas brasileiros em Paris, 274 são integrantes do Bolsa Atleta (97,8%). Dos seis que não fazem parte atualmente, quatro já estiveram em editais anteriores do programa do Ministério do Esporte. Os outros dois são guias, que correm ao lado de atletas com deficiência visual. O primeiro edital do Bolsa Atleta em que atletas-guia puderam ser contemplados foi o de dezembro de 2023, após a aprovação da Lei Geral do Esporte.

Por Agência Gov | Via Secom/PR

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