Priorizando as mulheres, voo de 8 de março da Operação Acolhida interioriza 140 migrantes e refugiados

Venezuelanos saíram de Boa Vista e desembarcaram em Curitiba e depois seguiram para os municípios de Maringá, onde terão emprego e moradia. Até o fim de janeiro de 2025, 145.694 pessoas foram interiorizadas, para 1.078 municípios brasileiros

Paciência. Esta é a palavra escolhida por Lerida Los Angeles para descrever o período vivido entre a saída da Venezuela e a chegada ao Brasil. “É preciso paciência, mas vale a pena”, sorriu. Lerida passou a tarde de sexta-feira (07.03) no Centro de Coordenação para Interiorização (CCI) de Boa Vista, onde participou de atividades educativas relacionadas à empregabilidade e ao combate à violência de gênero, promovidas pela Força-Tarefa da Operação Acolhida. Eram os preparativos finais para ingressar em uma nova vida.

A didática foi a introdução de uma extensa programação alusiva ao Dia Internacional da Mulher, celebrado neste sábado (08.03). Na ocasião, um voo especial da Operação Acolhida transportou 140 pessoas – entre mulheres e suas famílias – de Boa Vista até Curitiba. Após o desembarque na capital do Paraná, os grupos seguiram para os municípios de Maringá, Terra Boa e Paraíso do Norte no interior do estado. No destino final, os migrantes contam com acolhimento, emprego e moradia.

Acompanhada pelo marido e os filhos do casal, Lerida está há pouco mais de quatro meses no Brasil, em busca de oportunidade. E encontrou. A migrante de 27 anos está entre as 40 mulheres que se despediram do Norte do país e foram interiorizadas na região Sul do mapa. Já nesta segunda-feira (10.03), Lerida e a família começaram um novo capítulo de sua história, em Terra Boa (PR).

A interiorização é uma das etapas da estratégia de acolhimento de migrantes e refugiados venezuelanos. A medida contribui para a ascensão e autonomia dessas pessoas no Brasil. Em referência à data que marca a luta histórica das mulheres por equidade, a ação de interiorização deste sábado priorizou famílias chefiadas por elas. O objetivo da proposta é lembrá-las do quanto são capazes, explicou Noelline Lemos, coordenadora de proteção e assessora para assuntos de migrações do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

“Elas são mães solo, outras têm um parceiro, são chefes de família de diferentes idades, mulheres que saíram de uma situação grave de vulnerabilidade e vieram buscar no Brasil oportunidades que possam exaltá-las”, destacou. “A gente percebe muitas mulheres com perfis empoderados, mas que no processo migratório acabam perdendo essa característica. Então, a Operação 8M é mais uma forma de a gente resgatar essa autoestima e essa pessoa que existe para além do processo migratório”, complementou Noelline.

É tempo de novos começos, em novos cenários. Aos 30 anos, Keina Párraga está reiniciando a vida mais uma vez em outro país. Antes do Brasil, tentou se estabelecer com a família na Colômbia, mas viu o plano ruir. Nos últimos meses, a venezuelana e o marido trouxeram os três filhos para o Brasil. Desistir não é uma opção para ela. Durante três meses em Boa Vista, a chefe de família participou de cursos técnicos e se candidatou para uma vaga de emprego. Conseguiu.

O trabalho iniciou nesta segunda-feira (10,03), também no município de Terra Boa. Na região Noroeste do Paraná, Keina e a família poderão recomeçar – mais uma vez. “Sou uma mulher guerreira, lutadora. Pelos meus filhos faço tudo”, orgulha-se, e não consegue conter as lágrimas. “Estou emocionada, mas de felicidade, de alívio”, desabafou, enquanto segurava o certificado do curso que abriu a oportunidade de emprego em solo brasileiro.

Coragem

É preciso coragem para superar as dificuldades – e é preciso resiliência para continuar -, principalmente, a mais de nove mil quilômetros de suas raízes, sua cultura e da maioria de seus familiares. A garra de Nancy Flores reflete o poder da ancestralidade. Natural da etnia Pedom, a artista indígena, de 55 anos, cruzou o país com sua história e sua arte, expressada na pintura em cores vibrantes de quadros que remetem a como vivem os povos indígenas. Uma das obras, até embarcou com ela.

“Pedi até autorização para levar tinta, pincel e acrílico. Quero continuar trabalhando também com minha arte, vender meus quadros”, relatou. Nancy viveu três anos e sete meses acolhida em Boa Vista. Quando atravessou a fronteira, trouxe com ela a filha Lluvia, à época com 14 anos. Não puderam trilhar um caminho simples: embarcaram em ônibus, depois táxi e, por fim, chegaram ao Brasil de carona em motocicletas. “Foram 15 dias para chegar, mas chegamos”, recordou.

O Brasil se tornou um destino sonhado pela mãe e, desde então, é um campo fértil para a filha semear novos sonhos. Pela primeira vez em um avião, a jovem Lluvia garantiu que esta é apenas a sua primeira viagem pelos ares. “Eu vou terminar meus estudos na escola, depois vou fazer faculdade, ainda não sei se de música, e um curso de idiomas, de inglês e de coreano”, planeja. “Já vi que no Paraná tem muitas opções de faculdades, então, estou ansiosa”.

Algumas horas antes de viajarem, enquanto faziam as malas no abrigo em Boa Vista, o cansaço de Nancy dava espaço para a ansiedade de conhecer este futuro. O destino da família é Maringá (PR), uma cidade que elas ainda não conhecem, mas sobre a qual vêm recebendo o suporte necessário da rede do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

“Aqui no Brasil, nunca trataram a gente de forma diferente, temos direitos como qualquer brasileiro, somos recebidos no CRAS, temos acesso à saúde, educação, a esporte… O que mais poderíamos querer?”, contou a artista, abrindo um sorriso. Mãe e filha também têm emprego e residência garantidos no Brasil.

Capacitação

As equipes do Governo Federal realizam um trabalho junto às gestões municipais para a chegada dessa população. Assim, os trabalhadores da rede socioassistencial que receberão os migrantes refugiados estão capacitados para atender suas demandas, ao tempo em que as empresas para as quais elas prestarão serviços também foram preparadas para recebê-las.

“Nós buscamos trazer esse entendimento de que aqui no Brasil nós temos políticas públicas voltadas para todos e que todos têm direito de acessar as políticas de assistência social”, explicou a coordenadora do MDS, Noelline Lemos.

O voo especial da Operação Acolhida para o Dia Internacional da Mulher foi de Boa Vista a Curitiba. Após o desembarque na capital paranaense, os grupos seguiram para os municípios de Maringá, Terra Boa e Paraíso do Norte. Assim como para a viagem de avião, eles também receberam kits de alimentação antes de pegarem a estrada. 

Foram mais de 24 horas de trajeto, desde a saída de Boa Vista até o último destino. A chuva que caiu no fim da tarde de sexta-feira (7) não parou até sábado (8), marcando um volume histórico de precipitação na capital de Roraima: 196 milímetros nas primeiras 12 horas de chuva, quantidade três vezes maior que a média esperada para todo o mês de março (66mm). Apesar do volume atípico de água, o tempo ainda foi parceiro das famílias. 

O avião decolou por volta das 6h de sábado, do Norte para o Sul. O pouso no Paraná ocorreu por volta de 12h, e a chuva ficou para trás. Após o desembarque em uma Curitiba ensolarada, as mulheres e suas famílias tiveram algumas horas para descansar, se alimentar e, então, seguir viagem. O grupo encarou cerca de dez horas de estrada, em quatro ônibus, com algumas paradas. O final da viagem marca o ponto de partida para uma rotina em que “novidade” é a palavra de ordem, a começar pela diferença de uma hora no fuso horário. 

O relógio apontava que já era domingo (9.03) quando todos, finalmente, chegaram. O transporte das famílias venezuelanas foi concluído aproximadamente à meia-noite, horário em que foram recebidas pelas equipes da empresa para a qual prestarão serviços. Em seguida, elas foram encaminhadas para suas moradias. Após um domingo de descanso, esta semana é o início de um novo ciclo, marcado por esperança e resiliência.

Operação Acolhida

A Operação Acolhida é uma resposta humanitária do Governo Federal para o fluxo migratório intenso de venezuelanos na fronteira entre os dois países. Criada em 2018, com o objetivo de garantir atendimento aos refugiados e migrantes venezuelanos, a Operação Acolhida consiste na realocação voluntária, segura, ordenada e gratuita dessas pessoas, em situação de vulnerabilidade, dos municípios de Roraima para outras cidades do Brasil. 

Até o fim de janeiro de 2025, 145.694 migrantes e refugiados foram interiorizados, para 1.078 municípios brasileiros pela Operação Acolhida. Curitiba, com 8.548 pessoas, Chapecó (SC), com 5.963, São Paulo, com 5.961, Manaus, com 5.559, e Dourados (MS), com 4.567 são as cidades que mais receberam migrantes e refugiados. 

Ação envolve o Governo Federal, estados, municípios, as Forças Armadas, órgãos do Judiciário, organizações internacionais e mais de 100 organizações da sociedade civil.

Fonte: Agência Gov | Via MDS

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