Extrativistas e indígenas de comunidades localizadas na Floresta Estadual (FES) Tapauá e diversas terras indígenas do Médio Purus, no município de Tapauá (a 448 quilômetros de Manaus), localizado no interior do Amazonas, participaram de uma programação voltada para o aprimoramento de atividades de subsistência com o objetivo de torná-las potências regionais da sociobioeconomia.
O 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá, realizado em abril, na unidade da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) do município, foi promovido pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), por meio do projeto Governança Socioambiental Tapauá.
Na ocasião, diversos especialistas, do setor público e do terceiro setor, mostraram que práticas ancestrais de pesca, agricultura familiar e extrativismo podem se transformar em um excelente negócio, gerando renda aos povos da floresta e conservação do meio ambiente.
O presidente do Conselho Fiscal da Associação Agroextrativista dos Moradores da Floresta Estadual de Tapauá (AAMFET), Edilson Santana da Silva, é um exemplo de como as práticas agroextrativistas de áreas florestais são passadas de geração para geração.
Ele relata que a atividade extrativista da castanha-da-amazônia é tradição em sua família. “Os nossos antepassados vieram do Ceará, em 1930. Cinco anos depois, eles conseguiram a propriedade de castanha aqui. Depois foi ficando de geração para geração e até hoje a gente ainda vive lá”, disse.
“Eu tenho 60 anos, sempre trabalhei na atividade rural, com castanha, sova, pau-rosa. Sempre no mesmo local, que é a comunidade do Paiol, localizada na margem direita do rio Jacaré”, afirmou o ribeirinho. “Trabalho na mesma atividade desde jovem porque meu pai trouxe essa tradição antiga, no tempo do ‘soldado da borracha’, como eram chamados os seringueiros”, contou Edilson Santana.
Para ele, a organização dos comunitários em associações é o prenúncio de dias melhores. “Eu acho que muita coisa melhorou e vai melhorar mais agora. É o que a gente espera, né? Então, a perspectiva é que melhore mais ainda. Melhore mais a renda das pessoas”, disse com otimismo, se referindo ao que foi abordado no seminário, como acesso a programas governamentais, linhas de crédito e formas justas de comercializar a produção das comunidades.
Um sonho
A mesma perspectiva de melhorias para a comunidade tem Francinete Apurinã, presidente da Associação das Mulheres Indígenas Artesãs de Tapauá (Amiata). “Esse seminário para mim é um sonho. Nunca aconteceu um evento assim para a gente saber como são as regras, como é que tudo funciona”, declarou. Além de elogiar a realização do 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá, Francinete, que é do povo Apurinã e mora na Aldeia São Francisco, também se diz agradecida com o apoio que a Amiata tem recebido do Idesam.
“O Idesam tem sido um parceiro, nos ajudou muito, como se fosse um pai e, nós, da Amiata, como criança, aprendendo a andar, andando devagar. Não sabíamos o caminho, os documentos que a associação tinha que ter, como Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e certificação digital”, relatou Francinete, revelando as dificuldades que a associação enfrentou antes de ficar pronta para atuar.
A própria realização do 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá é um reflexo deste momento pelo qual passam os ribeirinhos e indígenas de Tapauá, além de suas associações. É mais uma conquista da atuação do projeto Governança Socioambiental, que vem apoiando na estruturação das associações e colocando em prática o vigor da sociobioeconomia para o qual são vocacionados.
Raimundo Chagas dos Santos, da comunidade Bela Vista, no rio Ipixuna, e indígena do povo Mamori, se disse surpreso em conhecer, por meio do seminário, as potencialidades da produção de sua comunidade. “Tem coisa que eu nem sabia que estava acontecendo. Somos indígenas, mas também somos cidadãos brasileiros. Queremos projetos, manejos, benefícios e políticas públicas”, reivindicou Raimundo, que é cacique de seu povo e diz que, muitas vezes, os benefícios oferecidos ao interior não se estendem às populações indígenas.
Após ouvir durante dois dias as aspirações das comunidades e associações de ribeirinhos e indígenas, o 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá elaborou, no terceiro dia, antes de seu encerramento, um plano de ação para que, nos próximos meses e anos, o fortalecimento das associações se intensifique e a sociobioeconomia seja cada vez mais uma realidade na região.
O evento
A realização do 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá é uma construção coletiva articulada pelo Idesam, por meio do projeto Governança Socioambiental Tapauá, em parceria com a Prefeitura Municipal de Tapauá; Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Sedecti-AM); Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-AM); Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam); e Universidade do Estado do Amazonas (UEA); além disso, conta com o apoio da AAMFET, Associação das Mulheres Indígenas Artesãs de Tapauá (Amiata), Associação da União das Comunidades Indígenas do Trevo de Tapauá (Aucitt) e Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp).
Sobre o projeto
O projeto Governança Socioambiental Tapauá teve início em abril de 2022 por meio da iniciativa estratégica Governança Territorial do Idesam, com recursos da Rainforest Association e Embaixada da Nova Zelândia. O projeto tem como prioridade a realização de atividades para o fortalecimento de comunidades em Áreas Protegidas de Tapauá, como a Floresta Estadual (FES) Tapauá, uma Unidade de Conservação estadual; e as Terras Indígenas Apurinã do Igarapé São João e Apurinã do Igarapé Tawamirim. O projeto conta com a parceria da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amazonas (Sema-AM) para avaliação e aprovação da execução por meio do Acordo de Cooperação Técnica N.º 003/2023.
Texto: Omar Gusmão – Up Comunicação Inteligente
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TEXTO ORIGINAL
Desbravando caminhos para o desenvolvimento sustentável no interior da Amazônia
No Amazonas, 1º Seminário de Sociobieconomia de Tapauá reúne ribeirinhos e indígenas para elaborar plano para fortalecer a agricultura familiar e o extrativismo sustentável na região
Os ribeirinhos e indígenas de comunidades localizadas no município de Tapauá (a 448 quilômetros de Manaus), no Amazonas, descobriram que têm vocação para ser uma potência regional da sociobioeconomia. Realizado pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), o 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá mostrou que práticas ancestrais de pesca, agricultura familiar e extrativismo podem se transformar em um excelente negócio.
Moradores de comunidades e aldeias tradicionais, localizadas em áreas preservadas da floresta amazônica, estão se reunindo em associações para incrementar a economia local, adaptando e profissionalizando antigas práticas. Foi justamente dessas adaptações , profissionalização e oportunidades que tratou o 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá, realizado entre os dias 27 e 29 de maio, na unidade da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) do município.
Presidente do Conselho Fiscal da Associação Agroextrativista dos Moradores da Floresta Estadual de Tapauá (AAMFET), Edilson Santana da Silva é um exemplo de como as práticas agroextrativistas dos moradores de áreas florestais são passadas de geração para geração.
“Eu tenho 60 anos. Sempre trabalhei na atividade rural, com castanha, sova, pau rosa. Sempre no mesmo local, que é a comunidade do Paiol, localizada na margem direita do Rio Jacaré”, afirma o ribeirinho. “Trabalho na mesma atividade desde jovem porque o meu trouxe essa tradição antiga, no tempo do soldado da borracha”, conta Edilson Santana.
Edilson Santana relata que a atividade extrativista da castanha do Brasil é tradição em sua família. “Os nossos antepassados vieram do Ceará, em 1930. Em 1935, eles conseguiram essa propriedade de castanha aí. E aí foi ficando de geração para geração e até hoje a gente ainda vive lá”, afirma.
Para Santana, a organização dos comunitários em associações é o prenúncio de dias melhores. “Eu acho que muita coisa melhorou. E muito. E vai melhorar mais agora. É o que a gente espera, né? Certo. Então, a perspectiva é que melhore mais ainda. Melhore mais a renda das pessoas”, afirma, se referindo ao que foi abordado no Seminário de Sociobioeconomia, como acesso a programas governamentais, linhas de crédito e formas de comercializar suas produções.
Um sonho
A mesma perspectiva de melhorias para a comunidade tem Francinete Apurinã, presidente da Associação das Mulheres Indígenas Artesãs de Tapauá (Amiata). “Esse Seminário pra mim é um sonho, nunca aconteceu um evento assim para a gente saber como são as regras, como é que tudo funciona”, declara.
Além de elogiar a realização do 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá, Francinete, que é da etnia Apurinã e mora na Aldeia São Francisco, também se diz agradecida com o apoio que a Amiata tem recebido do Idesam.
Parceria
“O Idesam tem sido um parceiro, nos ajudou muito, como se fosse um pai e nós, da Amiata, como criança, aprendendo a andar, andando devagar. Não sabíamos o caminho, os documentos que a associação tinha que ter, não tinha CNPJ, tinha que tirar a certificação digital”, conta Francinete, enumerando as dificuldades que teve para deixar a Amiata plenamente ativa e pronta para atuar.
A própria realização do 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá é um reflexo deste momento pelo qual passam os ribeirinhos e indígenas de Tapauá e suas associações que, com a atuação do projeto Governança Socioambiental em Tapauá, realizado pelo Idesam, estão se estruturando plenamente para pôr em prática o vigor da sociobieconomia para o qual são vocacionados.
Raimundo Chagas dos Santos, da comunidade Bela Vista, no rio Ipixuna, e indígena do povo Mamori, se disse surpreso em conhecer, por meio do seminário, as potencialidades da produção de sua comunidade. “Tem coisa que eu nem sabia que está acontecendo e agora eu sei. Muita coisa que nós não tínhamos conhecimento e queremos também. Nós somos indígenas, mas também somos cidadãos brasileiros. Projetos, manejo, benefícios, políticas públicas nós também queremos”, reivindica Raimundo que é cacique de seu povo e diz que, muitas vezes, os benefícios oferecidos ao interior não se estendem às populações indígenas.
Após ouvir durante dois dias as aspirações das comunidades e associações de ribeirinhos e indígenas, o 1º Seminário de Sociobioeconomia de Tapauá elaborou, no terceiro dia, antes de seu encerramento, um plano de ação para que, nos próximos meses e anos, o fortalecimento das associações se intensifique e a sociobioeconimia seja cada vez mais uma realidade na região.
Fonte: Up Comunicação Inteligente – Emanuelle Aráujo