Com filas e revezamento de cilindros, busca por oxigênio em Manaus prossegue

As empresas estão adotando diferentes métodos para suprir a demanda

Em Manaus, a corrida por oxigênio está longe de ter fim. Daniela Cardoso é jornalista e em sua página no Instagram tem narrado sua saga para abastecer os cilindros de oxigênio da irmã e da mãe. “Tem gente que está na fila desde a madrugada de ontem (segunda-feira, 18). Eu continuo aqui (início da tarde desta terça-feira, 19) e eles ainda não começaram a chamar as pessoas que vão entregar o seu cilindro”, relatou Daniela, que já estava há pelo menos 5 horas no local, uma empresa de gás no Distrito Industrial, na zona sul de Manaus.

As empresas estão adotando diferentes métodos para suprir a demanda, algumas recebem os insumos vazios e entregam no dia seguinte, através de um sistema de ficha. Em alguns locais de abastecimento apenas 50 cilindros são disponibilizados para a população, os demais vão para hospitais da cidade. “Para ficar na fila eu já fui na empresa quatro vezes, e já fiquei um dia inteiro, hoje tem uma pessoa que foi buscar, pela primeira vez, e é um cilindro pequeno”, explica a jornalista, cansada na procura de atendimento médico, enquanto a mãe teve um piora em seu quadro, na manhã desta terça-feira.

A estudante Wendy Milla Brito iniciou nesta terça-feira uma campanha pelas redes sociais para levantar fundos para adquirir oxigênio e medicamentos para a mãe, a assistente bucal, Gizelle Brito. “Eu consegui dinheiro para comprar remédio hoje, mas tive que dar a minha azitromicina para minha mãe. Procurei oxigênio para doação, mas a maioria é para venda e os preços estão lá em cima”. O uso de azitromicina contra covid-19, apesar de incentivado pelo governo federal, não tem comprovação de eficácia.

O professor de educação física Daniel Lima tem o pai e o padrasto infectados pelo coronavírus revezando oxigênio em duas casas. Daniel conseguiu reabastecer duas vezes antes da escassez do gás e outra nesta segunda-feira, com muita dificuldade. “A situação é tão ruim que tanto pai quanto padrasto usam o mesmo cilindro. É possível porque meu pai e padrasto moram em ruas paralelas, então quando meu pai está fazendo fisioterapia, quem usa é o meu padrasto”, explica Daniel. “Dois amigos me procuraram quando faltou oxigênio nos hospitais de Manaus. Eu me sinto muito mal, minha cabeça dói, a culpa é grande, estou destruído mentalmente, pois eu não pude ajudar um cara que me ajudou. O pai de um morreu, não aguentou 30 minutos sem oxigênio.”

Publicado por ESTADÃO

COMPARTILHAR

Related posts

Marco histórico: Conselho Pleno aprova proposta para garantir direitos aos advogados com deficiência

“De Repente Mãe” estreia na TV Norte SBT com Luana Borba

Sesc Amazonas terá programação natalina com entrada gratuita, nesta sexta-feira (13)