Agenda culturalEntretenimentoManausPrincipais Notícias

Do Médio Juruá para o Brasil: pirarucu manejado de forma sustentável protagoniza festival gastronômico

Símbolo de uma Amazônia que alia conservação da biodiversidade, segurança alimentar e geração de renda, o pirarucu manejado pelas comunidades do Médio Juruá (AM) ganha protagonismo no Festival Gosto da Amazônia, que celebra a sociobiodiversidade por meio da culinária. O evento reúne restaurantes parceiros para apresentar pratos exclusivos com o peixe amazônico, promovendo práticas sustentáveis, comércio justo e valorização dos modos de vida tradicionais.

Em curso até o dia 5 de outubro, em Belém – às vésperas da COP30 – o festival destaca o modelo de manejo comunitário desenvolvido no estado do Amazonas, especialmente em territórios como Carauari, onde ribeirinhos e indígenas organizados em associações, como a ASPROC – Associação dos Produtores Rurais de Carauari, realizam a pesca controlada do pirarucu com base em regras de proteção dos lagos, respeito ao ciclo reprodutivo e monitoramento participativo. O resultado é um exemplo bem-sucedido de economia da floresta em pé, com impacto ambiental positivo e fortalecimento das populações locais.

“Ver o pirarucu manejado pelas nossas comunidades chegar aos cardápios de grandes restaurantes é uma vitória. É o reconhecimento de um trabalho coletivo, feito com seriedade, responsabilidade ambiental e muito conhecimento tradicional. É o peixe da nossa região levando a história do povo do Médio Juruá para o Brasil”, afirma Ana Alice Britto, coordenadora comercial da ASPROC.

A ASPROC atua há mais de 20 anos fortalecendo o protagonismo comunitário na gestão dos recursos naturais. No caso do pirarucu, os resultados são expressivos: em áreas monitoradas, a população do peixe aumentou mais de 600% na última década. O modelo de manejo envolve contagem dos peixes pelos próprios moradores, delimitação de áreas protegidas e pesca apenas durante a estação seca, com cotas aprovadas pelo Ibama e controle rigoroso para garantir a sustentabilidade.

“O manejo do pirarucu é mais do que uma técnica: é uma estratégia de vida. Garante alimento saudável, renda para as famílias e a conservação dos lagos, das matas e da cultura de quem vive aqui”, reforça Ana Alice.

O Festival Gosto da Amazônia, ao incorporar o peixe manejado do Amazonas em criações gastronômicas sofisticadas, amplia o diálogo entre floresta e cidade. É também uma ferramenta poderosa de educação ambiental e valorização de territórios invisibilizados, que agora ganham espaço nos holofotes da gastronomia nacional.Gastronomia com identidade amazônica

Em Belém, 24 restaurantes participam da edição do festival, servindo pratos que utilizam o pirarucu fresco, salgado ou defumado. O evento mostra a versatilidade do peixe e seu potencial gastronômico, combinando técnicas regionais e internacionais, e reforçando a conexão entre o alimento e seu território de origem.

Entre os destaques:

●     No restaurante Eugenia, o chef Marley d’Oliveira criou uma versão amazônica do sanduíche japonês Sando, com pirarucu empanado no pão de leite.

●     No restaurante Celeste, a chefa Esther Weyl apresenta um prato que utiliza o peixe em três formas — fresco, seco e defumado — acompanhado de arroz e molho inspirado no tradicional XO chinês.

●     No Com’è?! Ristorante, o prato “Pirarucu Saltimbocca” combina lascas de presunto de parma, chicória e farofa de limão.

●     O restaurante Casa Blanca apresenta o “Pirarucu da Floresta”, com risoto de feijão manteiguinha, chips de macaxeira e crispy de jambu.

●     Na Saldosa Maloca, o “The Amazon King” traz a ventrecha do peixe com arroz, batatas ao forno com ervas e pirão de tapioca.

●     O Sushi Boulevard aposta no “Poke Amazônico”, com arroz japonês, pirarucu grelhado, camarão na tapioca, manga e harumaki de pirarucu com cream cheese.



Sobre o manejo comunitário do pirarucu

O manejo sustentável do pirarucu é uma estratégia de conservação e desenvolvimento local, iniciada em 1999 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM), e hoje replicada em diversos territórios do estado, como Médio Juruá, Baixo Purus, Solimões, Uatumã e outros. Ele combina conhecimento tradicional, monitoramento ambiental e governança comunitária para garantir o equilíbrio ecológico e a viabilidade econômica da atividade.

O modelo segue três regras principais:

●     Respeito ao ciclo reprodutivo: a pesca ocorre apenas durante a estação seca (setembro a novembro), fora do período de desova;

●     Tamanho mínimo de captura: só são pescados peixes com mais de 1,5 metro de comprimento;

●     Quota controlada: o Ibama autoriza a retirada de até 30% da população adulta de cada lago, com base em contagens feitas pelas próprias comunidades.

Essa experiência transformou o pirarucu — que já figurava na lista da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção) — em uma espécie recuperada nas várzeas amazônicas. Mais do que conservar, o manejo gera renda, soberania alimentar, autonomia e dignidade para os povos da floresta.

SERVIÇO:

Festival Gosto da Amazônia

Data: até 05 de outubro de 2025

Belém – Pará

Lista completa de participantes e pratos: https://festivalbelem.gostodaamazonia.com.br

Mais informações: https://www.instagram.com/gostodaamazonia/   — 

Fonte: Up Comunicação Inteligente – Emanuelle Aráujo

COMPARTILHAR
PUBLICIDADE FIM DOS POSTS

Related posts

Presa no Rio suspeita de articular ataques no Rio Grande do Norte

Redação

Sistema de captação de água potável beneficia 1,6 mil pessoas afetadas pela seca de 2023 no Amazonas

Redação

Em Salvador, ministra Nísia Trindade visita instituições referência do SUS e reforça combate à dengue

Redação

Deixe um comentário